Tati Eckhardt em… Soneto de Fidelidade

Em minha época de adolescente, eu era completamente apaixonada por poesia e vivia um amor romântico e inflamado. Eu tinha uma quedinha por sonetos, ficava admirando o talento dos poetas ao metrificar os versos e combinar as rimas. Simplesmente esplêndido!
Hoje, relendo esta poesia, com uma cabeça de adulta e uma visão mais libertária do amor, percebo o porquê de eu gostar desde soneto muito cedo, e tanto…
Essa poesia não é somente sobre o amor e o ser amado, mas também é sobre o cultivo desse amor, o carinho e a preocupação de alimentá-lo o máximo possível. É a brevidade de um momento presente, a ousadia de se permitir amar, mesmo sabendo que, provavelmente, não vai durar para sempre, por consequência da morte ou do término. É realista e, ao mesmo tempo, corajoso. Experienciar e poder contar sua história, mesmo que triste por ter acabado, mas satisfeito por ter vivido intensamente a cada momento.
Então vamos lá, deleitemo-nos nesta obra, que se tornou imortal:
Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes